Olá Leitores do blog, tudo bem
com vocês? Depois de um tempo sumido aqui estou atualizando meu veículo
novamente. Hoje tenho o prazer de trazer uma entrevista especial com uma pessoa
muito querida por mim.
Já disse aqui a minha admiração
jornalística pela multimídia Vivian Whiteman, o amor que tenho à irônica Regina
Guerreiro, mas nunca disse como a minha paixão pelo conceito imagético começou.
Isso vem lá de 2007 quando ainda era um menino caipira na cidade de São Paulo,
nesse ano conheci um fotógrafo que me ensinou coisas valiosas e muito mais.
O nome? Alexandre Perroca, que já
trabalhou na Vogue, Cláudia e Capricho só para citar as revistas da área de
moda. Inicialmente tive uma matéria abrangente onde tratávamos simplesmente de
design. Foi por meio de sua didática que tive contato com alguns arquitetos e
designers importantes na minha formação. O mais marcante pra mim foi Mies Van
Der Rohe, criador da cadeira Barcelona.
Após esse texto espero que já
tenham percebido o quão importante para minha formação critica e ampla sua
disciplina foi importante, portanto segue aqui o Por dentro da moda com esse
grande profissional da imagem, que me ensinou em pouco tempo o quanto a
construção visual era importante para vender um desejo.
Como começou sua carreira de
construtor de imagem? Alguma influência familiar? Quando começou a enxergar a
profissão fotográfica como profissão?
Desde
criança construía meus próprios brinquedos, inspirado em filmes e HQs que via.
Já era muito influenciado pela visualidade, essencialmente intuitiva naquela
época. Também adorava ver revistas com muitas fotografias. Acredito que a
fotografia como profissão foi uma decorrência automática de algumas escolhas feitas, sobretudo de minha graduação
na FAU-USP, que foi um grande incentivo para a exploração estética. Foi na
época da faculdade que me tornei fotógrafo.
Em sua profissão existem vários
profissionais gabaritados, se inspira em algum para realizar seu trabalho?
Existem
muitos fotógrafos excepcionais registrados pela história da fotografia, alguns
muito antigos, como Edward Steichen, Horst, Irving Penn, Doisneau, para citar
poucos, e outros tantos contemporâneos, todos mais que gabaritados, mas fontes
eternas de inspiração, ora técnica, ora temática, ou simplesmente pelo olhar
único que oferecem sobre o mundo.
Certamente
todos eles compõem meu repertório de imagens, mas não busco aproximar meus
trabalhos fotográficos das técnicas desenvolvidas por eles. Muitos são os
melhores no que fazem e, muitas vezes o são pelo fato de serem pioneiros no que
oferecem ao mundo e, por isso, não há motivo para copiá-los.
Busco
uma linguagem que expresse minha visão e sonhos.
(Trabalho realizado para a revista Júnior de junho de 2010)
Em sua escrita e explanação é
nítido que sua principal inspiração é a arquitetura e urbanismo, como se deu
essa transição entre a criação e a imagem em sua carreira?
Arquitetura
e Urbanismo é a minha base enquanto educação formal. A FAU-USP foi minha casa
em muitos e importantes anos de minha vida, tanto na graduação como no
Mestrado. É natural que eu leve comigo uma maneira humanística de pensar a
imagem, a marca e mesmo a própria construção de identidades, seja ela em uma
imagem, em um produto ou em uma organização.
Em suas obras fotografias,
percebe-se um olhar atento a detalhes e certa predileção pelas imagens em preto
e branco como isso começou em sua vida profissional?
O
P&B foi meu primeiro contato com a fotografia enquanto autor. As minhas
primeiras imagens em desfile e backstage foram em P&B. Até hoje tenho muito
carinho por elas. Em muitas ocasiões a fotografia em Preto e Branco consegue
ser muito mais sugestiva e instigadora do que a colorida.
(Foto do livro: A Costura do Invisível - Jum Nakao)
Na sua biografia estão presentes
passagens pelas mais variadas publicações da área de moda e comportamento, foi
uma transição natural? Ou uma oportunidade?
Acredito
que foram oportunidades que surgiram, e que demandaram escolhas que, por
consequência, levaram a mais oportunidades. Acredito que elas se abrem e se
fecham, o que permite que alguns de nós possam ser notados e muitos outros não.
Hoje
é muito difícil e, talvez até mesmo desnecessário, distinguir moda de
comportamento. Creio que lidar com imagem de moda é entender comportamento
social, comportamento de mercado, condições geopolíticas, enfim, um pacote
completo que envolve muito mais do que vestuário.
Nesses anos trabalhando com
imagem você já deve ter visto muitas coisas diferentes e perturbadoras em
diversos veículos, há alguma imagem que te atraiu por sua ousadia?
Ah...
rsrsr... Sem dúvida. Tem muita imagem de qualidade questionável que veicula em
diversas mídias e que você se pergunta como alguém pode aprovar aquilo... Mas
tem também coisa muito séria. Acredito que o perturbador é necessário como
alerta social. Lembro-me de imagens de modelos anoréxicas em meados de 2000,
bem como da campanha em vídeo apresentada pela PETA mostrando a crueldade
humana na extração de pele animal para a indústria da moda. São cenas
perturbadoras, chocantes, e necessárias para mostrar onde chegamos e nos fazer
questionar se é isso o que queremos como humanos.
(Enciclopédia da Moda: livro que em sua reimpressão colocou uma das fotos de Alexandre Perroca para o livro A Costura do Invisível na capa.)
Analisando seus trabalhos em
retrospectiva qual em sua opinião foi o mais marcante?
Muitos
trabalhos foram marcantes, felizmente. O trabalho que desenvolvi com o
estilista Jum Nakao em 2004 é um bom exemplo. Foram várias semanas acompanhando
o passo a passo da construção de uma coleção de papel que seria destruída na
passarela. Um trabalho que exigiu dedicação profissional e emocional de todos
os envolvidos, comprometimento e um compromisso com uma verdade maior.
Os
ensaios de natal que meu estúdio produz também são sempre muito especiais, pois
envolvem profissionais emocionalmente empenhados com algo muito prazeroso.
E tem
também a primeira vez que entrei em um desfile para fotografar, em 1996.
Phytoervas Fashion. Aquilo foi algo muito especial. Uma emoção incomparável,
mesmo porque a moda brasileira, como a conhecemos hoje, estava nascendo ali.
(Foto realizada para a divulgação do projeto beneficente Conexão solidária durante o Dragão Fashion em Fortaleza)
Como você analisa o mercado
fotográfico atualmente, com a profusão de câmeras digitais e a popularização
dos softwares ao estilo do Instagram? Acredita que isso minimiza a função do
fotógrafo no mercado?
Sou
favorável às mudanças. É importante que novas tecnologias surjam e substituam
as obsoletas. Foi assim que evoluímos até hoje. Acredito também que nenhuma
tecnologia ou equipamento substitui o olhar, a mente, o repertório e os
sentimentos de um profissional como o fotógrafo. Elas podem quando muito ajudar
a expressá-las, mas não criar a partir do nada.
Não
tenho dúvida de que hoje qualquer pessoa munida de um ipod clica uma cena
banal, seleciona o filtro no Instagram e a posta em seu Facebook , e essa
pessoa e seus amigos a consideram uma excelente fotógrafa. E a foto até que
fica linda.
Acredito
que comportamentos como esse nos ajudam a entender, ou mesmo redefinir, o que
vem a ser a fotografia e o próprio sentido da profissão.
(Foto realizada para a divulgação do projeto beneficente Conexão solidária durante o Dragão Fashion em Fortaleza)
Quais as dicas e conselhos que
você dá as pessoas que gostariam de trilhar o caminho profissional pela
fotografia?
Observe,
seja curioso, sonhe, seja humilde, estude e tenha muita paciência. Na verdade
penso serem dicas que servem para qualquer momento na vida e, como a fotografia
que eu conheço se presta a registrar e melhorar a nossa vida cabe perfeitamente
a ela também.
E aqui está O Por Dentro da moda
com esse profissional e espero que vocês leitores gostem de ler, para encerrar
deixo uma frase inspiradora de autoria dele.
“Esse
é um sonho conjunto, que felizmente pode ser realizado”
Alexandre
Perroca, Março de 2007.