O Feminismo de Madonna
Como vocês já devem ter percebido,
de tempos em tempos escrevo sobre figurinos aqui no blog, hoje a análise será
sobre os criados por Jean Paul Gaultier e Marlene Stewart para Madonna na Blond
Ambition tour de 1990. Pode parecer estranho retroceder ao final da década de
80 para falar de figurinos, sendo que Lady Gaga faz algo parecido hoje em dia
em parceria com Nicola Formichetti, só que nenhum figurino de Stefani
Germanotta atualmente foi tão impactante quanto os criados pela dupla de
estilistas em 1990.
Mas antes voltaremos no tempo, os
figurinos traziam quereres e por que não anseios de Madonna que nesse período
estava com dois álbums importantes no mercado: Like a Prayer onde ela retratava
seu lado adulto e confessional e I'm Breathless onde ela encarnava a cantora do
filme Dick Tracy onde a mesma havia atuado. Então os figurinos querendo ou não
retratavam esses dois lados da mesma cantora o confessional e adulto através
dos corselets de cone que Madonna utilizou em Like a Virgin e o divertido
através dos looks utilizados em Cherish, Into The Groove e Material Girl.
Porém como isso foi contado no
palco? É importante lembrar que a cantora estabeleceu um show dividido em blocos
como as peças de teatro, portanto os figurinos tinham que acompanhar esse “setlist”
dividido em cinco blocos. O 1° retravava o lado masculino e poderoso Madonna utilizando-se
de um corselet bege apresentava-se como a rainha de uma indústria nesse bloco
inspirado livremente na obra cinematográfica de Fritz Lang “Metropolis” que inspirou
também seu clipe Express Yourself, esse bloco destacava o poder feminino irrestritamente
tal qual uma feminista a procura de seus direitos a cantora utilizava um terno
estilizado zombando do guarda roupa e principalmente do falo masculino, o figurino
atingia esses propósitos além de exibir uma Madonna malhada e principalmente consciente
de suas potencialidades no palco, não é a toa que nesse bloco também aparecia uma
artista zombeteira e polêmica na mesma equivalência dos homens nas canções
Causing a Commotion e Where’s a Party.
Depois o lado adulto da cantora
aparece de duas maneiras, primeiro em Like a Virgin a canção onde ela aparecia
vestida de corselet dourado em cima de uma cama escarlate acompanhada de dois
bailarinos eunucos, nessa canção era como se a Madonna masculinizada e
feminista demonstrasse que no fundo ainda continuava sendo uma mulher e que por
isso ela precisava se descobrir intimamente através do toque, na época essa
performance foi muito criticada. Porém vendo agora ela é menos ofensiva que um
moedor de carne em pleno palco não acha? O figurino também criação de Gaultier
ressaltava exatamente essa questão sobre a feminilidade da cantora
principalmente pelo uso de dourado e também por não ser tão cavado como o do 1°
bloco do show o que escondia em termos a calcinha da interprete. Após essa
canção o palco se transforma em uma igreja, pegando elementos explorados no
clipe de Like a Prayer a cantora começa a se confessar já que se sente “culpada”
pela descoberta de Like a Virgin, essa culpa se reflete no figurino negro
colocado sobre o corselet dourado.
Como uma freira moderna ela confessa
seus pecados as estâncias superiores com Like a Prayer onde no fim da canção há
quase um “exorcismo”, na realidade os figurinos desse bloco também criados por
Jean Paul e Marlene evocavam exatamente a penitência e a religiosidade que
sempre esteve nos trabalhos de Madonna, é interessante analisar que mesmo de
preto ainda há uma sensualidade submissa principalmente em Papa Don’t Preach onde a cantora se apresenta
com uma capa “transparente” preta mostrando que mesmo exorcizada não se culpava
por ter se tocado e se sentido “virgem” como a 1° vez.
Ainda há três blocos do show, porém
esses dois primeiros já trazem elementos que seriam utilizados em outros trabalhos
da cantora, por essa razão achei importante realizar a análise dessas duas
partes do show somente.
(fotos e croquis retirados de Mad Eyes)
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